A cavidade abdominal, preenchida por um amplo conjunto de órgãos de extrema importância em funções orgânicas diversas, está limitada por quatro paredes musculares: diafragma (superior), músculos do períneo (inferior), psoas-ilíaco e quadrado dos lombos (posterior) e parede abdominal (antero-lateral).
Os últimos, são talvez o grupo muscular sobre o qual incide a maior quantidade e variedade de exercícios, quer do atleta bem treinado, quer do indivíduo sedentário que resolve iniciar um programa de treino físico, ou apenas, exercitar um pouco o seu corpo.
Somos regularmente bombardeados com exercícios reivindicando a sua importância para tonificar e fortalecer os músculos abdominais, mas sabemos que muitos destes exercícios são insuficientes e ineficazes.
Independentemente dos objectivos e da boa vontade daqueles que os utilizam ou mandam utilizar, a realidade é que, alguns desses exercícios acabam por solicitar predominantemente outros grupos musculares que não os da parede abdominal ou, mais grave, atentar contra a própria saúde e bem-estar do indivíduo.
Só um esclarecimento mais preciso e cientificado das características dos músculos desta região e da forma como actuam nas diferentes vertentes do movimento, permitirão ao profissional e ao atleta / praticante intervir de uma forma mais consciente.
Nesta 1ª parte irão ser abordados os aspectos de natureza anatómica e funcional que julgamos necessários para, na 2ª parte, melhor podermos compreender como podemos ter e dar informações precisas, úteis e orientações de exercícios. Além disso, vários mitos e equívocos serão dissipados.
Anatomia abdominal
Caracterizar anatomicamente um músculo significa descrever o conjunto das suas características estruturais e que determinam o seu potencial funcional. Existem alguns aspectos importantes a conhecer de cada músculo, que dado o teor prático do artigo não iram ser abordados, que são:
- os pontos de origem e inserção do músculo;
- a sua forma;
- a orientação das fibras musculares;
- o número de articulações que atravessa;
- o posicionamento do músculo relativamente a essas articulações.
São quatro os músculos que o constituem: o Recto Abdominal, o Grande Oblíquo, o Pequeno Oblíquo e o Transverso.
Estes músculos revestem por completo a parede, com uma rede de fibras musculares orientadas praticamente em todas as direcções.
Grande Recto – Músculo longo, com inserções superiores na 5ª, 6ª e 7ª costela e na extremidade inferior do esterno; as fibras orientam-se verticalmente inserindo-se, inferiormente, no púbis.
Principais acções: Flexão do tronco e retroversão da bacia
Grande Oblíquo – Músculo largo que se insere superiormente nas últimas oito costelas, daí as suas fibras dirigem-se obliquamente para a frente e para baixo, inserindo-se na crista ilíaca e púbis.
Principais acções: Participa na flexão (contracção bilateral), rotação (para o lado contrário ao Grande Oblíquo que se contrai) e na flexão lateral (para o lado do Grande oblíquo contraído). Faz também a retroversão da bacia.
Pequeno Oblíquo – Músculo largo com inserções semelhante ao Grande oblíquo, mas cujas fibras se encontram orientadas perpendiculares às deste músculo. Insere-se superiormente nas últimas quatro costelas; as suas fibras dirigem-se obliquamente para trás e para baixo, inserindo-se na crista ilíaca e arcada crural. Anteriormente continua por uma aponevrose que passa quer à frente quer atrás do Grande Recto.
Principais acções: Participa na rotação (para o lado oposto do Pequeno Oblíquo contraído), flexão lateral (para o lado do Pequeno oblíquo contraído) e na flexão (contracção bilateral). Faz também a retroversão da bacia.
Transverso – Músculo largo, insere-se posteriormente nas vértebras lombares. As suas fibras dirigem-se horizontalmente para a frente, inserindo-se na crista ilíaca e cartilagens costais. Os dois Transversos formam uma cinta elástica profunda, disposta horizontalmente que envolve os órgãos abdominais.
Principais acções: Importante na inspiração e expiração, e o principal responsável pela manutenção duma pressão intra-abdominal adequada.
Flexão
O Grande Recto é apontado como o principal e potente flexor do tronco.
O Grande e Pequeno Oblíquos, pela orientação das suas fibras, são auxiliares desta acção.
Flexão lateral
A contracção do Recto e do Pequeno Oblíquo do mesmo lado, assim como a acção conjunta de outros grupos musculares, nomeadamente o Quadrado dos Lombos, o Grande Psoas e a Massa Comum, produzem o movimento de flexão lateral da coluna vertebral, sobretudo nas regiões lombar e dorsal.
Rotação
A rotação do tronco é da responsabilidade dos músculos Grande e Pequeno Oblíquo. O movimento de rotação do tronco é conseguido por uma acção conjunta do Grande Oblíquo de um lado com o Pequeno Oblíquo do lado oposto.
Como veremos já de seguida, a maioria dos músculos flexores da coxa têm a sua origem na porção Antero-lateral da bacia.
Para que a sua contracção seja mais eficaz na flexão da coxa, é necessária a fixação da sua origem, que se consegue pela manutenção da bacia em retroversão, que é possível pela contracção da parede abdominal em conjunto (com especial incidência da parte inferior do Grande Recto).
Flexores da coxa
Os flexores da coxa são: Psoas Ilíaco, Recto anterior do Quadricípede, Tensor da Fascia Lata e Costureiro (embora os quatro possam participar na flexão do tronco, são os dois primeiros que sem dúvida participam mais).
A origem destes músculos localiza-se na bacia óssea, excepto ao Grande Psoas (porção do Psoas Ilíaco) que tem origem na coluna lombar. A inserção localiza-se no fémur (Psoas) e na tíbia (Recto anterior do Quadricípede).
Considerando a acção destes músculos com origem e inserção invertida, podemos verificar que têm condições para realizar a flexão do tronco ao aproximarem a coluna lombar da bacia, do membro inferior.
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